A mensagem ambiental de muitos textos do Antigo e do Novo Testamento fica
mais evidente quando a leitura se realiza a luz da teologia da criação contida
no livro de Gênesis. (ver “A missão dos cristãos nos desafios ambientais”).
Um desses textos é o episódio da sarça ardente narrado no livro do êxodo
(Ex 3,1-5). A interpretação habitual dessa leitura está sob a ótica da manifestação
do poder de Deus e da afirmação de sua santidade, atributos necessários para
encorajar Moisés a assumir o desafio de liderar seu povo na missão que está
prestes a receber. Nessa releitura transparece que o cuidado com o meio
ambiente integra desde o início a missão de libertação do Povo de Deus. O
relato se inicia assim:
Apascentava
Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Conduziu as ovelhas
para além do deserto e chegou ao Horeb, a montanha de Deus.*
A travessia do deserto é uma simbologia indicativa de que a rotina de
Moisés está para ser quebrada. Na base dessa decisão provavelmente estava a
escassez de comida, água e a esperança visionária de que além do deserto
haveria uma situação melhor. Foi uma atitude ousada e de grande coragem porque
se nada encontrasse, Moisés e seu rebanho poderiam ficar sem forças para
retornar. Como motivação Moisés tem diante de si a montanha de Deus e assim sua
decisão se caracteriza também como um testemunho de fé e entrega total aos
desígnios de Deus. Essa experiência de conduzir as ovelhas pelo deserto foi ainda
um anuncio e um importante treinamento para a travessia do povo de Deus que
seria liderada por ele. Foi nesse contexto e ambiente extremo onde a vida
experimenta seus limites que Moisés presenciou a manifestação de Deus.
O anjo de
Iahweh lhe apareceu numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisé olhou, e
eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
Nessa
manifestação Deus se manifestou a Moisés utilizando-se de dois elementos
naturais, o fogo e a sarça. O fogo é um símbolo teofanico que desde as épocas
mais remotas está associada à manifestação da presença de Deus e a sarça é, por
dedução, um espécime da flora local. A forma como a manifestação de Deus ocorreu
é bastante educativa, Ele utilizou um elemento da natureza (sarça) para
realizar o sinal de sua manifestação (fogo) mas realizou esse evento sem
consumir a sarça, assim evidenciou que Ele não é um consumidor da natureza e
mostrou para Moisés que ao utilizar os elementos naturais não deve consumí-los,
destruí-los ou esgotá-los. Moisés, porém não compreendeu essas coisas
imediatamente, em princípio parece não percebido o fenômeno como uma
manifestação divina mas apenas como algo misterioso:
“Então disse Moisés “Darei uma volta e verei este
fenômeno estranho; verei porque a sarça não se consome”
O mistério que despertou a curiosidade de Moisés
realizou o propósito divino, fez com que ele se aproximasse de Deus.
Viu Iahweh que ele deu uma volta para ver. E Deus
o chamou do meio da sarça. Disse: “Moisés, Moisés.” Este respondeu: “Eis-me
aqui.”
Quando Moisés chegou perto o
suficiente Deus se manifesta de forma mais familiar e convincente, chamando-o
pelo nome. Moisés compreendeu subitamente o que estava ocorrendo e, consciente
da presença de Deus, respondeu colocando-se humildemente a disposição. O que
Deus fala em seguida é ambientalmente muito impactante:
Ele disse: “Não te aproximes daqui; tira as
sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa.”
Tirar as sandálias é atitude de reverencia
e respeito diante de alguém que se considera sublime. Mas Deus não pediu esta atitude
de reverencia e respeito para si, e sim para a terra. Certamente Deus já sabia
o quão respeitoso Moisés seria para com Ele, por isso pediu a Moisés para
reconhecer a santidade da terra e pautar sua relação com a ela com o mesmo
respeito, carinho e cuidado que Lhe dedicava.
Todo esse cuidado com a terra (e
com a sarça) é importante porque se trata de realizar a primeira missão que
Deus confiou ao Homem no relato javista da criação e também porque será útil
para retirar do deserto todos os víveres necessários para a grande travessia do
povo. Assim, o sentido da palavra terra neste episódio assume o sentido de crosta terrestre, ambiente comum onde as
montanhas se apóiam, o mar se agita, os rios escoam, os vegetais germinam e
crescem, a vida se diversifica e a sociedade humana se desenvolve. Sob esta
ótica, a santidade da terra pisada por Moisés se estendeu para todo o planeta e
a missão salvifica do povo de Deus agora inclui todos os cuidados que se deve ter com a
Terra.
* Todas as citações foram extraídas da versão impressa
da Bíblia de Jerusalém.
Curso Pastoral de Educação Ambiental
INSCREVA-SE AQUI
Curso Pastoral de Educação Ambiental
INSCREVA-SE AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário